Título: A casa das Rosas
Autor (a): Andréa Zamorano
Editora: Tinta Negra
Páginas: 176
Ano: 2017

SINOPSE
   É a primeira metade da década de 1980, e o Brasil vive momentos de tensão e de expectativa. Enquanto a ditadura militar agoniza, a campanha pelas eleições diretas ganha força. Eulália está prestes a completar 18 anos, mas não pode experimentar os ventos de liberdade que começam a pedir passagem. É prisioneira na mansão onde vive, refém do autoritarismo e das excentricidades do pai, um político muito rico que reproduz, no cotidiano, a mentalidade arcaica das elites brasileiras. Há um segredo. A chegada de um vestido de noiva e de um animal que fala, a onipresença das rosas e a morte que parece à espreita, sempre. Há, sobretudo, o embate permanente entre duplos — a ebulição da metrópole e a asfixia do espaço doméstico, tirania e liberdade, amor e posse. Realidade e fantasia.
                                                  

   Recebi esse livro da Oasys Cultural, e confesso que fiquei intrigada com a sinopse, para variar. A premissa do livro me fez suspirar de alegria, e, pesquisando mais sobre a vida da autora, pude conhecer a história da Andréa, uma carioca que mora em Portugal.

Fachada da Casa das Rosas. Foto: Casa das Rosas/ divulgação.
   O plano de fundo da história é a época da redemocratização do Brasil, período em que o povo foi às ruas pedindo por "Diretas Já", na década de 1980. O cenário: A CASA DAS ROSAS, casarão que existe na Avenida Paulista, em São Paulo, e que hoje em dia é o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, um espaço dedicado à manifestações culturais de poesia e literatura. Curiosa que sou, fui pesquisar sobre o lugar e descobri que na época de sua construção, em 1935, abrigava herdeiros dos Senhores de Café (no livro a autora até faz uma citação sobre isso), e ela acabou sendo desapropriada em 1986, pelo Governo do Estado. A casa conta com 30 cômodos e leva esse nome por ter um dos mais belos jardins de rosas.

   A narrativa corre sob a perspectiva de Eulália, filha de um político influente, Virgílio de Sá Vasconcelos, que fora casado com Cândida, mulher por quem nutriu um amor doentio e profundo. Ela foi embora após o nascimento da filha e nunca mais deu notícias.
"Hoje, tenho muito medo de Virgílio. Nem por sombras quero que se lembre de me procurar."

"Morri para ele e para todos os que nos rodeavam. Eles têm uma pena enorme por eu o ter abandonado e deixado uma criança recém-nascida. Um escândalo. Logo ele, sem qualquer vocação. Cabe-me a solidão imposta pelas horas eternas."
   Do relacionamento dos dois, o livro aborda a superioridade de Virgílio e a submissão de Cândida, que foi persuadida por ele para o matrimônio e convencida a ficar somente em casa.
   Eulália cresceu sem ter conhecido a mãe, vivendo num casarão, privada da liberdade e do simples prazer de ir até a rua pelo seu pai, a menina cresceu acreditando que seu pai era seu verdadeiro herói, a pessoa que mais a amava na vida. 
   Do amor entre homem e mulher a menina pouco conhece. Só sabe que é apaixonada por Juan García Madero, personagem de um livro do escritor chileno Roberto Bolaño (que, fato intrigante, só viria a existir quase um século depois da época que Eulália vivia).
"(...) Juan García sacou do seu bloco de notas e de uma bic azul, fez um desenho, arrancou a folha que de seguida me deu. Aproximou-se mais. Afastou uma madeixa de cabelo caída no meu rosto e sussurrou no meu ouvido: 
"A verdadeira poesia é assim, ela deixa-se pressentir, anuncia-se no ar, como os terremotos - e os temporais. Você tem essa força."
   No dia do aniversário de 18 anos, tudo na vida de Eulália muda. Seu pai lhe presenteia com um vestido de noiva, com o pretexto de que a menina já tem idade suficiente para casar-se com ele e assumir o nome da mãe, Cândida. Enojada, Eulália foge de casa, encorajada por Koi, um curioso sagui que ela conhece dias antes na sua casa.
"Decidi que não tinha tempo para sentir medo, muito menos para ter pena de mim."
    Eulália vira Ana, Ana vira Maria. No tempo vivendo nas ruas, a menina aprende muito sobre a vida, e quer descobrir sobre o seu passado. 
"O seu corpo não precisava de um teto, mas a sua alma sabia que ter uma vida significava ter também um endereço."
   Há investigadores atrás do caso do desaparecimento da menina, e do que ocorreu com Virgílio.
Virgílio torna-se uma figura repugnante, que fala sozinho com alguém a quem chama de Cândida, sua ex mulher. Lhe joga palavras fortes e desconexas, como se tivesse realmente alguém no quarto ao lado - o quarto de Eulália. E responde como se o fantasma também conversasse com ele. 
   Tempos depois, a menina decide voltar para casa. É o dia em que Eulália, Ana e Maria se tornam uma só. Uma pessoa mais madura, mais forte, mais corajosa. É o dia que ela enfrenta seus medos e o dia que descobre verdades sobre o seu passado. 

   Não tem como entrar em mais detalhes sobre o livro: ele é poesia pura. Andréa escreve com um lirismo maravilhoso, como se conversasse de perto com nós, leitores. Eu nunca tinha lido um livro em que a narrativa se misturasse tanto, porque no mesmo capítulo podemos ter Eulália narrando, Virgílio, Ana, Maria ou Cândida. Passado e presente se confundem. O real e o que não existe - ou aquilo que acreditamos que não existe - se mesclam. Por isso é uma leitura que é necessária ser feita com muita concentração, para não perder os detalhes, para perceber o que é real e o que não é. 
   Particularmente, eu adorei a leitura. Apesar de ter sido preciso um dia de reflexão sobre a história, sobre o que eu realmente acreditei. Acredito que tenha sido esse mesmo o objetivo da autora: nos deixar imaginando muito mais sobre o mistério acerca da vida de Eulália. 
   Ademais, os capítulos são curtinhos, conseguimos captar toda a essência das narrativas. Eu acredito que a mistura de ficção com realidade foi muito bem explorada no livro, e por vezes pensei que a introdução de um sagui na história tenha sido proposital e que o mesmo está representando a própria menina, como se fosse uma parte de sua personalidade, a pessoa corajosa e sem escrúpulos. Mas, como eu disse, a autora nos deixa criar nossas próprias ideias acerca dos personagens. 
   Parece confuso quando lemos a sinopse do livro, mas a mistura de um sagui, um fantasma, um homem louco mentalmente, uma menina inocente perante às realidades da vida, junto com um plano de fundo sobre o Brasil, numa casa que realmente existe, é maravilhosa.

                     

"Querido Virgílio,
Queria dizer que o amor tem dessas coisas, às vezes pode ser tão grande que nos sufoca. É assim que me sinto, sufocada no seu imenso amor. Um amor estranho e comum, generoso e mesquinho, grande e pequeno, rico e pobre. Que me quer só para ele, absorvendo-me toda, não deixando espaço para os meus gostares, para os meus quereres, nem para mim própria."



17 Comentários

  1. Oi, Meise. Você falou exatamente isso que pensei ao ler a sinopse, achei a história confusa, mas pelo visto ela agrega muito mais que isso. Gosto de histórias na época da ditadura mas confesso que só li uma até hoje, talvez seja melhor embasar mais minha opinião com outros livros.
    Beijos
    http://www.leitoraencantada.com/

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  2. So interesting post, dear! Really amazing and so wonderful text! Like it a lot!
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    Visit me, Maleficent

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  3. Oi
    não conhecia o livro, parece ser interessante e que bizarro o pai querendo casar com a filha, parece ser uma história bem envolvente. gostei de conhecer por aqui.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

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  4. Oi Meise,
    Não conhecia o livro, mas achei a proposta bem interessante.
    Ainda mais por misturar alguns fatos do nosso país e sempre acho escroto essa coisa de casamento por obrigação. Se eu vivi naquela época certamente tretei kkkkkkk e a parte da investigação, me deixaria presa na leitura tb. Ótima resenha.

    tenha uma ótima quinta.
    Nana - Canto Cultzíneo

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  5. *ainda no caso, casar com o pai, ficou faltando um pedaço aí haha

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  6. Oi Meise!
    Não conhecia o livro, mas me interessei bastante. Nunca li nenhum livro que se passasse durante a ditadura militar.

    Beijos,
    Sora | Meu Jardim de Livros

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  7. Nossa, que capa linda!!!
    Adoro livros que retratam algum fato histórico.
    5 O'clock Tea

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  8. Oi Meise,
    Ainda não conhecia o livro, mas pela sua resenha a trama me pareceu interessante. Dica anotada!!

    *bye*
    Marla Almeida
    http://loucaporromances.blogspot.com.br/

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  9. Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas achei interessante :)

    www.vivendosentimentos.com.br

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  10. Não conhecia e achei bem interessante a temática =)

    MRS. MARGOT

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  11. Oi Meise! Que resenha completa adorei! Eu não conhecia a obra, mas livros que nos faz digerir por dias as histórias são bem interessantes!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  12. Sabe, eu li sua resenha duas vezes para ter certeza se era tudo isto que eu tinha entendido mesmo. Como não leio sinopses, sua resenha foi realmente surpreendente. Quando cheguei na parte em que o pai fala que ela já pode se casar com ele, fiquei: "O que?" Sério, estou fascinada pelo livro mesmo sem ter lido-o ainda.
    Ter o Brasil como cenário, essa casa que existe e misturar este fantasioso com o real deve ser muito fascinante. Eu amei a sua resenha e quero muito conhecer o livro. Parece ser realmente maravilhoso!
    Magia é Sonhar

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  13. Olá Meise,

    Não conhecia esse livro mas logo de cara eu adorei, capa linda e sinopse intrigante, sua resenha só me deixou mais curioso, dia anotada...bjs.

    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

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  14. Oi Meise, tudo bem?
    Eu gosto bastante de livros que se passam nesse período, acho bem interessante, mas achei a sinopse um pouco confusa.
    Blog Entrelinhas

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  15. Olá Meise, acabei de ler a sua resenha. Adorei a forma como se refere ao livro:"ele é poesia pura". Sinto-me muito lisonjeada pela sua geneorosidade. Fico sempre emocionada quando vejo as pessoas se deixarem apaixonar pela narrativa. Muito obrigada mesmo. Beijão desde Lisboa. Andréa Zamorano

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  16. Bela resenha! Li o livro também e realmente a escrita da autora é bem poética, ela saber usar bem as palavras.
    sejacult.com.br

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  17. Oi Meise.
    Li o livro e fiquei muito encantada com a história. Achei genial o desfecho, apesar de ser muito violento o que o Virgílio faz com a esposa e tenta fazer com a filha.
    É verdade que tem que se estar atento à narrativa para não se confundir, por conta da mescla de narradores.
    Abraços.

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A leitura é uma porta aberta para um mundo de descobertas sem fim. - Sandro Costa

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